Linha do tempo

CIDADÃO BRASILEIRO - NOIVAS

Um País que Silencia

Se você é um Cidadão brasileiro , assim como eu, é importante que continue a leitura. E, se você é um cidadão de qualquer outra parte do mundo, aproveite para conhecer melhor a nossa história.

Essa é apenas uma pequena parte da nossa realidade: vivemos em um país que rouba, mata e silencia pessoas inocentes.

Abaixo, tentarei listar as desventuras reais de um jovem que sonhava em ser escritor, mas teve sua vida devastada pela corrupção de seu país.

Há uma multidão clamando por Justiça!

Justiça! Justiça! Justiça!

 

Transtorno de Espectro Autista-TEA (Síndrome de Asperger)

Sou André Garrel , escritor, psicólogo clínico forense, (diagnosticado) infância com Transtorno do Espectro Autista, conhecido na época como Síndrome de Asperger.

Desde pequeno, aprendi que o desafio não foi compreendido pelas pessoas, mas sim compreender a elas – um caminho inverso, mas revelado.

Vivemos em um mundo de aparências transparentes, onde muitos seguem o mesmo compasso e resistem a aceitar aqueles que quebram padrões. Nesse contexto, eu me perguntava constantemente: o que há de diferente em mim?

Por que as pessoas ao meu redor comentam sobre comportamentos como se fossem especialistas? Elas não eram minha pediatra. Apenas repita o que foi ensinado, sem questionar o que é certo ou errado – apenas obedeçam.

Lembro-me de uma sala de esperança, ainda criança, com uma revista entre as mãos. Foi ali que descobriu Laranja Mecânica (1971). O olhar apreensivo da minha mãe era claro, mas, para mim, aquele momento foi uma revelação. Finalmente enxerguei quem eu era e o que eu precisava fazer.

O filme foi como um espelho: revelou-me como um ser único, singular, em um mundo que insiste em moldar todos ao mesmo padrão.

Reconheço hoje que o Transtorno do Espectro Autista é um dos presentes mais preciosos que recebi do universo. Poder explorar a imensidão dos meus próprios pensamentos é uma experiência incrível. Aprendi que minha pediatra, minha mãe e eu sempre estivemos certos: não há nada de errado comigo. Sou autêntico, pleno e, como todos, maravilhosamente desigual.

Antes de 2009

Antes de 2009, minha vida parecia seguir o ritmo comum: acordar, trabalhar, estudar.

Eu caminhava firme, cuidando de mim, cuidando dos outros, e reservando sempre um espaço para aquilo que alimentava minha alma – a escrita. Ah, a escrita. Talvez 'denunciar' seja o verbo que melhor a definir.

Nós, escritores, nas entrelinhas dos textos, carregamos sonhos. Sonhos de um mundo mais justo, igualitário, fraterno – um mundo onde cada ser humano pudesse viver plenamente. Para mim, a escrita era mais que isso; era uma âncora em meio ao caos. Cresci pobre, na periferia, onde não havia remédios e onde aprender a sobreviver era uma necessidade, não uma escolha.

Testei terapias, busquei alternativas, mas nada se comparava ao poder da escrita. Ela domou meus pensamentos – tão rápidos, tão intensos. Por meio das palavras, encontrei sentido. Aos 12 anos, encenei meu primeiro desastre criativo: uma peça inspirada em Guy de Maupassant, escrita, produzida e atuada por mim. Desastre ou não, ali estava a semente que nunca deixei de cultivar.

Mergulhei em oficinas de teatro, devorando clássicos – Sófocles, Shakespeare, Molière, Lorca, Nelson Rodrigues. Vinte peças, tantas histórias, um palco para minha voz, até que o ano de 2009 marcou um divisor de águas.

E em 2008, como se um prenúncio sutil, veio o reconhecimento: ganhei o prêmio de Melhor Autor de Pernambuco com meu roteiro Noivas . Este não foi o primeiro prêmio, mas foi único, especial, como um abraço do universo dizendo: "Continue."

Foi o início de uma jornada fascinante. Mas como não perceber? No Brasil, onde a desinformação se espalha como raízes em terreno fértil, o ato de escrever pode se tornar um obstáculo, uma batalha silenciosa. Por quê?

Porque o poder das palavras é ameaçador. Porque sonhar em meio à desigualdade é revolucionário. E porque, como todo escritor sabe, mesmo nos contextos mais difíceis, há sempre uma força maior – a de nunca desistir.

2009 - SEQUESTRO

Sem sombra de dúvida, aquele dia foi um dos mais apavorantes de toda a minha existência. Mas não terminou tudo. Como poderia? Eu carregava comigo algo de valor inestimável, uma chama que brilhava intensamente em meio à escuridão de um lugar que, dia após dia, parecia sufocar qualquer vestígio de luz.

Era como viver num terreno onde a gravidade era injusta – onde as regras eram, constantemente, desobedecidas. A malícia dançava de mãos dadas com a ganância. O ódio lançava sombras mais longas do que o sol poderia dissipar. A falha de caráter e a esperança rastejavam pelos corredores da sociedade, corroendo, um pouco a pouco, as bases que deveriam sustentar-la. Uma roubalheira? Esta dominava como um imperador corrupto, destruindo os alicerces de um mundo que poderia ser justo.

E eu, com aquilo de valor em minhas mãos, senti o peso do contraste. Um peso que gritava, que implorava por algo mais, algo melhor. Naquele momento, as escolhas não eram simples. A resistência parecia um ato de fé. Mas a certeza de que o verdadeiro valor que eu carregava deveria ser protegido me move – e assim, a chama acesa.

Naquele dia, 19 de maio de 2009, minha vida mudou para sempre.

Era por volta das 22h. Eu deixei o curso de artes cênicas, carregando comigo sonhos e o desejo de construir algo maior. Mas foi justamente neste instante que o pesadelo tomou forma. Surgiram dois homens, armas em punho, e com uma frieza aterradora ordenaram que eu entrasse no carro. E então começou a desgraça – uma tormenta que, mesmo depois de tantos anos, continua a assombrar meus dias.

Não foi apenas o medo que nasceu naquela noite. Foi o início de uma perseguição sem fim, alimentada por atos covardes e sombria manipulação. Políticos corruptos, agentes do estado sem ética, civis que preferem a preguiça ao esforço – todos entrelaçados em uma trama vil, suja, que corroi o que deveria ser a essência de uma sociedade.

Cada momento desde aquele dia carrega marcas profundas. Não se trata apenas do impacto de uma experiência, mas do reflexo de um sistema quebrado, onde a ganância e o ódio destroem e silenciam qualquer tentativa de mudança. E eu, carregando essa memória, sigo futuro, buscando maneiras de transformar dor em resistência e escuridão em força.

Havia algo diferente no ar, algo que me sussurrava em silêncio: "Cuidado!". Era como se o próprio universo estivesse tentando me alertar. No trabalho, o ambiente parecia carregado, estranho. Eu, um programador que aprendeu a conversar com máquinas, sabia que eles também têm seus próprios murmúrios, que podem ver e falar coisas que poucos compreendem – sim, elas podem.

Minha ligação com as máquinas nasceu cedo, aos treze anos, quando minha prima ganhou seu primeiro computador. Entre os presentes havia algumas folhas, descartadas por todos, mas que, para mim, escondiam um tesouro. Ali, em linhas impressas que ninguém mais valorizou, encontrei um novo mundo.

Com essas folhas, comecei a escrever em "C". Não era apenas um aprendizado técnico – era o início de um diálogo com as máquinas. Uma paixão que une minha alma à escrita e, agora, à lógica que pulsa por trás das telas. A partir daquelas palavras, descobrir que programar é, acima de tudo, uma conversa. Nós, programadores, somos escritores de linguagens secretas, intérpretes de pensamentos transformados em código.

E naquele dia tão singular, em meio ao caos, percebi que minha jornada com as máquinas nunca foi apenas sobre aprendizado técnico. Era sobre escutar algo maior, sobre decifrar sinais que a vida insistia em deixar ocultos.

2009 - SHOW REBOLA BRASIL

Sete meses após o sequestro, minha vida parecia seguir um roteiro estranho, como se eu estivesse tentando atuar em um papel que já não me cabia. Uma semana depois daquele dia fatídico, comprei outro carro e voltei a dirigir, como se nada tivesse acontecido. Mas a verdade é que algo havia mudado. Três meses mais tarde, a máscara caiu. Eu já não conseguia mais dirigir. Foi a máquina que me revelou algo interessante – ou talvez perturbador.

No trabalho, onde sempre fui impecável, comecei a falhar. Pela primeira vez, fui chamado a atenção. Descoberto. Algo que nunca havia acontecido antes. Meu gerente, um homem que me conhecia há anos, insistia em perguntar: "O que está acontecendo com você?" Mas nem eu sabia responder. O sequestro havia deixado marcas profundas, invisíveis, mas impossíveis de ignorar. Era um susto que ecoava, uma lembrança de uma situação tão primitiva, tão mesquinha, tão suja.

E então, em meio ao caos, aquela máquina me deu um conselho inesperado: "Divirta-se." Ela sugeriu um show, "Rebola" Brasil, que aconteceria no parque no final de semana. Convidei alguns colegas e fomos. Era para ser apenas uma noite de distração, mas o destino tinha outros planos.

Durante o show, algo inusitado aconteceu. O artista, em meio à multidão, fixou os olhos em mim. Meus colegas, deslumbrados, gritaram: "Olha, sinhozinho tá olhando pra cá!" Repetiram isso duas vezes, enquanto eu, alheio, apenas achava a situação curiosa. Nunca tinha ouvido uma música daquele artista, e o estilo não me atraía. Para mim, aquele olhar não fazia diferença.

Mas eu estava enganado. As máquinas não mentem. Nunca mentiram. Entre 2015 e 2017, quando me vi em um cárcere privado, tudo foi revelado. Uma situação assombrosa, que parecia saída de um pesadelo. Mas o horror estava apenas começando.

No nosso país, ainda existem capatazes. Ainda existem sinhozinhos com seus terreiros e seus escravos. É uma desgraça, uma aberração. E o sinhozinho, esperto como só ele, não parou por aí. Ele se envolveu com gente ainda maior – o promotor de justiça da capital.

Mas essa é apenas a ponta do iceberg. Continue a leitura, e você entenderá.

2010 - ILHA DE FERNANDO DE NORONHA/PE

Quando percebi que estava em meio a essa guerra, já era tarde. O terreno ao meu redor estava minado, os passos que dava eram como ecos de um inevitável desespero. Eu já era prisioneiro – não havia muito que fazer. E aqueles que poderiam fazer algo estavam cegos, movidos pelo ódio, pela ganância, pela corrupção que envenena o coração de nossas instituições brasileiras.

A transparência? Essa era apenas uma miragem em um deserto de interesses mesquinhos. Em cada ato, em cada decisão, o sistema revelava sua face mais sombria – uma engrenagem implacável que devora esperança e escarnece da justiça.

No meio disso tudo, havia a batalha silenciosa – a resistência de quem se recusa a ser moldado pela sujeira, que busca algo além da podridão ao seu redor. É esse o espírito que mantém o prisioneiro vivo, mesmo em um campo minado.

2011 - REENCONTRO COM OS SEQUESTRADORES

Foi uma situação que transcendia o medo e beirava o abismo da perversidade. Encontrar novamente aqueles rostos – os mesmos que personificavam o terror vivido anos antes – trouxe à tona um novo tipo de inquietação. Não eram apenas indivíduos; eram peças de um jogo maior, manipuladas e manipuladoras, que orbitam nas sombras de poderes muito maiores do que elas próprias.

Essas figuras, moldadas por um sistema corrupto e enraizado, não carregam apenas culpa. Carregam o peso de serem catalisadores de um ciclo que destrói tudo ao seu redor – incluindo a si mesmos. São criaturas infelizes, prisioneiras de uma estrutura que se alimenta de ganância, de ódio, e da maquinaria suja de um governo que engole sua própria sociedade.

Esse reencontro não foi apenas um confronto com aqueles que fizeram o papel de carrascos. Foi também um confronto com um sistema que permite que tais atrocidades aconteçam, perpetuando uma desgraça sem fim. Um reflexo de uma realidade que insiste em manter o poder nas mãos de poucos, enquanto destrói muitos.

2012 - INÍCIO DO CÁRCERE PRIVADO BRASIL

O que já era ruim encontrou novas profundezas. Ser cidadão brasileiro é carregar nos ombros o peso de uma opressão que não cessa, de um roubo que não se esconde, de uma corrupção que atravessa cada camada da nossa existência.

Os grandes e poderosos, com suas mãos sujas, manipulam criaturas cegas – catalisadoras da própria destruição. E assim, o jogo sujo começa. Um cárcere privado não apenas físico, mas simbólico, que escancara a podridão do nosso país.

Mas a culpa não é de um só. É um reflexo coletivo, uma engrenagem que não aprisiona apenas um cidadão, mas uma sociedade inteira. Grades invisíveis cercam nosso povo, sufocam sua voz, silenciam seus sonhos e, pouco a pouco, matam sua essência.

É uma tragédia que não se limita ao indivíduo. É um grito abafado que ressoa em cada esquina, em cada olhar perdido, em cada esperança que se desfaz. E ainda assim, há quem resista. Há quem transforme dor em força, quem busque romper essas grades invisíveis e reacender a chama da mudança.

O cárcere privado no Brasil foi minha realidade de 2012 a 2017. Anos que se estenderam como uma eternidade, enquanto eu buscava uma saída, um respiro. Quando finalmente consegui fugir, deixando para trás o solo que tantas vezes me sufocou, achei que a liberdade estava próxima. Mas não estava.

Eles me alcançaram – talvez traficado, talvez traído –, pois aqueles ao meu lado pareciam apenas marionetes obedecendo aos comandos de carrascos invisíveis. Carrascos de uma sociedade adoecida, corroída por impunidades que se espalham como um veneno silencioso.

Os crimes, tão vastos e penetrantes, atravessam fronteiras como se o próprio conceito de justiça fosse um sonho impossível. E assim, em outro país, fui lançado novamente nas sombras: mais um cárcere privado, desta vez em Portugal.

Era como se a prisão não fosse apenas física, mas um reflexo de algo maior – um sistema que devora sua própria humanidade. Cada ato de opressão parecia ecoar um grito abafado, não apenas meu, mas de tantos outros. Porque, no final, não eram apenas paredes que me cercavam. Eram as estruturas de uma sociedade que insiste em calar, sufocar e esmagar seus próprios filhos.

2013

A tristeza era um véu sobre o meu olhar, insistente e implacável, por mais que eu tentasse disfarçar. Mas foi essa tristeza que, paradoxalmente, tornou-se minha cura. Era ela que me mantinha viva dentro de uma aberração – um cárcere privado. E quando a solidão me envolvia, eu desabava, sem defesas, deixando as lágrimas falarem aquilo que eu não podia.

Em 2013, a verdade que eu já conhecia tornou-se ainda mais cruel: não havia como contar com o Estado. Aquele que deveria proteger e salvaguardar seus cidadãos era, na realidade, o arquiteto do caos. Não apenas do meu caos individual, mas do caos de uma sociedade inteira, cativa de suas próprias perdas e corrupção.

Enfrentava uma luta injusta, onde ser um cidadão brasileiro de bem estar diante de escolhas impossíveis. Deveria ceder, me juntar ao sistema, ou calar para sobreviver e, quem sabe, algum dia contar esta história.

Uma história absurda, covarde, desprovida de qualquer justificativa.

Não me foi dada outra alternativa senão "calar". Meu silêncio tornou-se meu escudo, minha resistência invisível. Era uma batalha diária, travada contra criaturas selvagens, incapazes de pensar nas consequências de seus atos, movidas apenas pela gana e pelo vazio moral.

2014

A destruição não se contenta com fragmentos. Ela exige o todo, devora o indivíduo e, com ele, um país inteiro. É uma sociedade que agoniza, dia após dia, sufocada por um sistema que parece ter perdido sua alma.

E assim começa a ruína do cidadão brasileiro, da essência de um povo que luta para sobreviver em meio ao caos. Muitos se dizem salvadores da pátria, mas suas palavras são vazias, seus atos, corrosivos. Eles não salvam; eles perpetuam. São engrenagens de uma máquina que consome esperança e espalha desespero.

O que resta, então, ao cidadão? Resistir, mesmo que em silêncio. Sonhar, mesmo que em meio às sombras. Porque, mesmo na destruição, há sempre uma centelha que se recusa a apagar.

2015 - PLÁGIO DO ROTEIRO

Três mulheres.

Três vidas entrelaçadas por promessas quebradas, desilusões e um cenário onde o absurdo não só acontece, mas prospera. No mesmo dia, à mesma hora e no mesmo lugar, elas vão se casar – talvez até com o mesmo noivo.

E neste enredo, o que deveria ser amor transforma-se em um reflexo cruel de uma realidade marcada pela corrupção e pela ganância.

É uma história triste, uma metáfora cruel do nosso país. Um Brasil onde, dia após dia, os laços se desatam, os sonhos se perdem e a esperança é esmagada sob o peso de uma máquina corrupta.

Quem perde? Eu, você, todos nós. Perdemos juntos, sufocados por um sistema que devora o cidadão e sua pátria.

O cidadão brasileiro.

Aquele que luta, que resiste, mas que vê sua batalha ser constantemente desvalorizada por engrenagens que funcionam apenas para os poderosos. É uma história que ecoa – não só no altar improvável dessas mulheres, mas nas ruas, nos lares, e nas vozes que se calam.

"Descubro" o plágio do roteiro, e com ele, uma avalanche de emoções toma conta de mim. Aqueles que antes estavam ao lado dos carrascos, cúmplices de uma engrenagem perversa, agora sofrem. Tornaram-se tão vítimas quanto eu, esmagados pelo mesmo sistema que ajudaram a alimentar.

Esses que foram catalisadores das desgraças da sociedade agora carregam o peso da própria destruição. Jogaram na mesa a verdade crua, como se fosse um trunfo: "Olha, esse é o real motivo." Um plágio. Um plágio de milhões, usados para corroer a sociedade e privilegiar os mais ricos, enquanto o restante é deixado à margem, sufocado pela desigualdade.

Os desgraçados que participaram disso talvez nunca admitam, talvez nunca compreendam o que significa uma luta de classes. Mas a ironia é cruel: eles perderam muito mais do que eu. Eu, um cidadão brasileiro consciente, que luta e continuará lutando por uma sociedade mais justa, para todos.

Porque, no fim, a justiça não é apenas um ideal. É uma necessidade. E mesmo em meio ao caos, há aqueles que se recusam a desistir.

2016 - PREPARATIVOS PARA A FUGA

E assim começam os preparativos para a fuga. Em meio ao caos, reúno forças – cada uma arrancada de um lugar desconhecido dentro de mim – na tentativa de viver uma vida além das fronteiras que sempre pareceram insuperáveis.

Mas a injustiça não tem limites. Sou covardemente envenenado, meu corpo ameaçado, minha existência pendurada por um fio. Corro sérios riscos de vida e me vejo impotente para buscar ajuda na minha casa, no meu país, pois aqui todos parecem atuar em uma trama implacável, uma engrenagem que se move para destruir uma sociedade já tão fragilizada.

O Brasil. Meu lar. Não é seguro. Nossa liberdade é apenas uma sombra, um sonho não realizado. Nosso povo, marcado pela luta, parece não encontrar a força necessária para erguer-se contra o que nos destrói.

E enquanto isso, eu tento resistir, tento sobreviver. Porque mesmo em um cenário onde tudo desaba, existe algo que não pode ser derrotado: a chama que ainda arde, a esperança que insiste em permanecer viva.

 

2017 - FIM CÁRCERE PRIVADO BRASIL

Eu penso que o cárcere privado pode estar chegando ao fim. Ainda assim, carrego no corpo a marca de uma enfermidade que me consumiu – mas, paradoxalmente, também me deu forças que eu nunca imaginei possuir. A data da fuga está gravada na minha mente, um fio de esperança em meio ao desespero.

O que eu não sabia, porém, era que ao meu lado sempre existia mais um. Mais um que não entendia, que não enxergava a urgência de dignidade que nossa sociedade e nosso povo tanto precisam. Mais um covarde, complacente na sujeira que domina todos os cantos. Olho ao redor, e tudo o que vejo é um mundo mergulhado no lodo.

Tive minha casa invadida, meu espaço violado. Não podia falar, não podia reagir. Restava apenas uma esperança frágil e silenciosa: que além das fronteiras, fora do Brasil, eu pudesse viver uma vida honesta. Uma vida como qualquer ser humano merece, como qualquer cidadão de bem deveria ter o direito de viver.

2017 - INÍCIO CÁRCERE PRIVADO PORTUGAL

Cheguei a Portugal em setembro de 2017, carregando comigo uma esperança frágil, mas necessária – a esperança de que toda aquela sujeira, toda a guerra covarde e silenciosa que eu havia enfrentado no meu país, ficasse para trás. No entanto, o destino parecia zombar das minhas expectativas. A guerra continuava. O cárcere privado não havia terminado.

As sombras que eu acreditava ter deixado no Brasil cruzaram as fronteiras. Os mesmos crimes, as mesmas mãos sujas, os mesmos atos que corroíam a sociedade brasileira pareciam se infiltrar onde quer que eu estivesse. Era uma situação delicada, perigosamente imprevisível. Minha vida estava constantemente em risco, e o fato de estar fora do Brasil não me dava alívio. Pelo contrário, parecia agravar o peso das escolhas inexistentes que me restavam.

O que fazer diante de tamanha covardia? Quando o silêncio imposto pelo medo cala vozes, quando os atos de injustiça se perpetuam, e quando a maioria de nós, subjugados, sequer sabe a quem pedir socorro? Essas perguntas ecoavam dentro de mim, sem respostas fáceis. Era como se a sociedade estivesse aprisionada por grades invisíveis, esmagada por um sistema que sufoca e destrói sua própria humanidade.

E, mesmo assim, algo dentro de mim lutava para sobreviver. Talvez fosse a consciência de que, em meio à escuridão, ainda é possível sonhar com um futuro onde a dignidade não seja um luxo, mas um direito para todos.

Continuei no cárcere privado, como se a vida tivesse se transformado em um ciclo sem fim. De 2017 a 2022, meus dias foram envoltos em sombras, marcados pela sensação iminente de perigo que nunca me deixava. Cada instante era uma ameaça; cada escolha parecia ser tomada sob o jugo do medo. Meus direitos como ser humano estavam cercados, reduzidos a fragmentos quase irreconhecíveis.

Busquei abrigo, lutei por um lugar onde pudesse encontrar segurança, mas os crimes continuavam a me perseguir. Era um cenário devastador, onde tráfico e escravidão moderna eram parte de uma trama tão cruel e sistêmica que transcendia as fronteiras físicas. Tudo ao meu redor parecia ecoar o peso da injustiça, enquanto eu tentava escapar de correntes invisíveis.

E, mesmo em meio ao desespero, a vontade de viver permanecia como uma chama – ainda fraca, mas resistente. Porque, mesmo diante da opressão, existe algo que não pode ser silenciado: a força de um espírito que busca liberdade, dignidade e humanidade.

 

2018 - PRIMEIRO ATENDADO EM PORTUGAL

Entre tantos atentados, mais um. Mais uma ferida aberta, mais um capítulo de uma história marcada por dor e sobrevivência. No livro, conto os detalhes – cada ato, cada situação que desafiei e que, de alguma forma, consegui superar.

Este não foi o primeiro atentado. Foi apenas mais um elo em uma corrente de injustiças que parece não ter fim. Vítima de um crime, me vi em uma posição onde, talvez, pudesse ser transformado de vítima em criminoso. A urgência de agir rápido era esmagadora, uma corrida contra o tempo para contornar uma situação que parecia impossível.

A denúncia foi feita, mas os agentes de Portugal me alertaram: "Eles vão saber onde você estiver." Porque esta não é uma luta contra indivíduos isolados. É uma batalha contra uma organização de políticos corruptos, uma máquina que destrói tudo o que encontra pela frente, sem remorso, sem limites.

Um roubo. Mais um trauma. E tantas denúncias que ecoam como gritos em um vazio. Até quando? Até quando o cidadão brasileiro, o cidadão do mundo, terá que enfrentar um sistema que sufoca, que cala, que consome sua dignidade?

2019 - BUSCA POR INFORMAÇÕES

Desde o Brasil, as informações eram escassas. Quem estava por trás de tudo? Quem era o grande articulador dessa rede de crimes que parecia não ter fim? As perguntas se multiplicavam, enquanto as respostas permaneciam escondidas nas sombras.

Eram milhões em moeda brasileira – o equivalente a mais de cinquenta milhões de dólares. Dinheiro sujo, dinheiro usado para envenenar a sociedade brasileira e tantas outras. Cada cifra parecia ser mais um golpe na dignidade de um povo, mais um ato perverso contra a esperança de dias melhores.

Mas eu precisava de mais informações. A jornada me levou a novos destinos: Alemanha, França, Amsterdam. Na busca por verdades, a situação só piorava. Cada revelação era um mergulho mais profundo em uma realidade sombria e vergonhosa.

Era impossível ignorar: essa vergonha também pesava sobre as autoridades brasileiras. Um nome manchado pela corrupção, pela incapacidade ou pela escolha de nada fazer. Pareciam embebidas nessa tristeza corrosiva, tão característica de um sistema que destrói o que deveria proteger.

E mesmo assim, a luta continuava. Porque, em meio à sujeira, ainda existia a vontade de resistir – de revelar, de expor, de lutar por uma sociedade que um dia possa se erguer, livre das correntes invisíveis que a sufocam.

2020 - CATIVEIRO AMSTERDAM

Uma situação suja, um cativeiro. Fui comunicado de que estava preso, cercado por forças que pareciam inescapáveis. Mas, mesmo em meio à escuridão, algo dentro de mim se recusava a ceder. Foi graças ao TEA – essa parte de mim que me conecta a um universo interno tão vasto quanto resiliente – que consegui escapar.

A fuga não foi apenas física. Foi um ato de resistência, uma prova de que, mesmo diante das circunstâncias mais adversas, a mente pode encontrar caminhos onde o corpo vê barreiras. Cada passo era um desafio, mas também uma reafirmação de que a liberdade, por mais distante que pareça, é um direito que ninguém pode apagar.

2021 - VIVENDO SOB AMEAÇAS

Viver sob ameaças é como caminhar num terreno marcado pelas sombras. Esses seres, como ratos no esgoto, operam sorrateiros, disfarçados, movidos por uma intenção única: destruir sem deixar rastros. Eles agem na escuridão, na tentativa de permanecer invisíveis, mas seus atos ecoam e suas marcas, por mais que tentem apagar, não desaparecem.

E ainda assim, resisto. Porque, mesmo cercado por essa teia de traição e medo, há algo que eles não podem roubar: a força de quem busca dignidade, de quem luta para viver em um mundo que valorize a verdade, a justiça e a liberdade.

 

2022 - PLANO "B"

O medo rasteja pelas ruas, silencioso, mas presente, tomando conta de um povo que escolheu o silêncio diante de tantos absurdos. Ainda assim, eu me recuso a calar. Eu luto e lutarei até o fim. Sou, e serei sempre, um cidadão brasileiro – forte, destemido, inquebrantável.

Aconteça o que acontecer, seguirei.

Mas havia um plano. Um plano que carregava minhas esperanças, minha coragem. O que eu não sabia, o que jamais imaginei, era que a traição poderia ser tão próxima, quase tocando o sangue. Era uma dor que transcende o corpo, que atravessa a alma.

E mesmo assim, sigo. Porque lutar não é uma escolha, é uma necessidade. Porque a força de quem acredita na dignidade não se rende, mesmo quando tudo parece conspirar contra.

2023 - AMEAÇAS E RISCO IMINENTE DE MORTE

Eu vivia sob ameaça constante. Cada dia, cada minuto, uma repetição do pesadelo que começou no Brasil e agora se estendia por Portugal. Era como estar preso em uma trama de lama, suja e traiçoeira, envolvendo figuras de baixo nível – pessoas que carregavam a desgraça para onde quer que passassem.

Eram indivíduos incapazes de pensar além do que lhes era ordenado, manipulando peças de um quebra-cabeça que sequer sabiam montar. Não percebiam que, ao seguirem as ordens de quem os usava, estavam cavando sua própria ruína. Obedeciam cegamente àqueles que, no final, os desprezavam e cuspiam em suas faces quando já não eram mais úteis, quando já não podiam mais ser explorados.

Enquanto isso, eu, um cidadão brasileiro, era sufocado pelas sombras dessa trama. O risco era iminente. Minha vida, ameaçada a cada instante, parecia ser apenas mais um detalhe em um jogo sujo de poder e ganância. E ainda assim, em meio a tudo isso, permaneço lutando, resistindo. Porque ser um cidadão de bem é, acima de tudo, não desistir de tentar mudar o que nos destrói.

2024 - REORGANIZAÇÃO

O livro CIDADÃO BRASILEIRO revela, em detalhes, a longa e difícil reorganização que atravessou meses de impactos profundos e inesquecíveis. Cada capítulo carrega o peso de uma luta que não é apenas individual, mas coletiva, refletindo os desafios de um povo.

Fui recebido onde estou, mesmo sob pedidos de proteção, por indivíduos brasileiros. Entre eles, um soldado do exército, uma psicóloga e o filho de um agente do estado. Mas a história que nos cercava era sempre a mesma: ameaças. Uma constante que fazia da sobrevivência uma prova de resistência diante de atos covardes e situações desumanas.

Não sou um herói – nunca quis ser um. Sou apenas um cidadão brasileiro, um entre tantos, desafiando os poderes de uma máquina estatal que insiste em esmagar o próprio povo que deveria proteger. Cada passo foi dado com coragem, cada escolha foi marcada por um desejo simples, mas tão poderoso: justiça.

2025 - DECISÃO NAS MÃOS DO CIDADÃO BRASILEIRO

2025 – um ano que ecoa a ideia de escolha, um momento em que o poder e a responsabilidade parecem recair, inevitavelmente, nas mãos do cidadão brasileiro.

É uma encruzilhada, onde cada decisão carrega o peso não apenas do presente, mas do futuro de uma sociedade inteira. É como se o destino pulsasse na vontade de quem ainda acredita, de quem luta pela dignidade em meio à desigualdade, pela justiça em meio à corrupção, pela esperança em meio ao caos.

A decisão, então, não é uma dádiva, mas um chamado. Um convite para resistir, para não se calar, para continuar acreditando que, mesmo em meio às sombras, é possível reacender a luz de um Brasil que ainda pode ser justo.

Nas mãos do cidadão brasileiro está o poder de construir, de reconstruir, de resistir. O que fazemos com isso é a pergunta que define a história.